Papel + cabeçudo = Papeludo. António Costa passa uma parte do dia na garagem, onde durante décadas armazenou os bonecos de PVC do filho, as roupas das Barriguitas da filha, os resumos da universidade deles, os cubos de madeira, as cadernetas de cromos, as bicicletas, as ferramentas e as canas de pesca. A sua vida — e o facto de ser minhoto, minhoto, de ter visto mil "danças" de cabeçudos e gigantones — é a principal influência para estes bonecos toscos, que agora ocupam um espaço digno na garagem, entretanto transformada numa espécie de oficina do Gepeto. É lá que os materiais são empilhados, que o papel se transforma numa pasta moldável. É lá que as personagens ganham forma, adereços e personalidade. É lá que a esposa Felisbela dá opinião sobre a cor a utilizar nos olhos e na boca. E é lá que as netas vêm crescer os seus primeiros brinquedos, de enormes olhos e bochechas de vermelho lustroso.
Nota biográfica do autor
Natural de Vila Nova de Cerveira, António Costa foi mandado aos 10 anos, quarta classe debaixo do braço, ganhar a vida como padeiro em Lisboa. Ficou mais dez na capital, onde fez os primeiros bonecos com massa de pão. Até aos 65, passou anos a fio a levar pratos da cozinha para as mesas de alguns dos melhores restaurantes da região de Viana do Castelo. Deu por si artesão aos 65 anos, depois de uma visita a uma feira de artesanato, onde a sua neta mais velha aprendeu a fazer um boneco em pasta de papel. Ele também.