Quinta dos Baldo

Martim Tirado, Carviçais, 5160-063
Quinta dos Baldo Quinta dos Baldo is one of the popular Hotel located in Martim Tirado ,Carviçais listed under Cottage in Carviçais , Hotel in Carviçais ,

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António Júlio Lopes, pai de Nuno Gomes Lopes (o dono da Quinta), nasceu na então chamada Quinta do Loureiro, filho de Aníbal César Lopes e Alzira de Jesus Gabriel. Com a migração de todos os filhos do casal e a morte de Aníbal e Alzira as casas ficaram devolutas, sem uso à vista. A vizinha, a tia Baldo, morrera também há já alguns anos, sobrando apenas o tio Amílcar, a tia Alcina, a tia Clementina e o tio Luís como habitantes da Quinta do Loureiro.

Partilhas feitas e o tempo passado, Martim Tirado parecia ser cada vez menos a terra dos seus filhos. As gentes iam envelhecendo e com elas, as casas. A quem lhe sobrasse algum dinheiro e discernimento lá ia compondo o telhado ou rebocando alguma parede velha. Para outros, não interessam agora as razões, a casa tornou-se o seu túmulo.

Como aconteceu à tia Baldo, mulher do tio Baldinho. A sua casa não era muito diferente das casas que a rodeavam. Como todas as outras, não era uma casa - era um casal. A família morava na casa de cima, apesar de tudo com algum barro entre as pedras, de lareira no chão e com grandes pedras salientes que protegiam os caibros do lume. Tirando as cunhas, que ainda assim eram falheiras, a alvenaria era tosca, com pedras de todo o tipo de origens. A casa tinha à sua frente uma curralada, onde durante algum tempo se guardaram cabras, delimitada pela própria casa, por outra casa, anexa, onde se guardavam os burros, por dois muros e por uns cardanhos onde se hospedavam galinhas, coelhos e porcos. Do outro lado do muro de baixo vivia um quintal, agora tomado por olmos, e uma casa com capela, a palavra usada para forno.

Como todas as casas de pedra de Martim Tirado, foi construída com a pedra que havia com o escasso tempo que sobrava da sobrevivência. As mais velhas apenas por pouco ultrapassam o século de idade, idade pouca para a consolidação que várias gerações de uso dão a uma casa ou a uma aldeia. Nessas quintas que se sucedem pelas cumeeiras toda a madeira que não seja fumada pela lareira rapidamente bicha e cede, e toda a telha levada pelo vento é um buraco imenso para a chuva entrar e estragar. Perdido o telhado, perde-se todo o interior, comido por sol e chuva, e as paredes. O barro é levado pela água, surgem fissuras, a parede vai tombando, empurrada pelas madeiras quebradas, até que pouco resta do que pedras amontoadas, a lembrar remotamente uma casa.

Quando a casa da tia Baldo foi comprada, em 2006, as paredes eram seguras e o telhado firme. Sem uso nem manutenção, exposta ao tempo, as telhas voaram, a cumeeira da casa quebrou, empurrando, aos poucos, as paredes consigo. Bastou uma visita do engenheiro para que os compradores, António e Nuno Lopes, percebessem que a casa estava condenada. As paredes, a caminho do chão; os interiores de madeira, torrados pelo sol e lavados pela chuva, destruídos. Tinham um projeto para uma casa que já não existia. O processo passou ao inverso: como reconstruir, mais do que uma casa, uma ideia.

A ideia duma casa levantada do chão, que está lá desde sempre mas que pode sumir a qualquer momento, levada por um bafo. Telhas que demoraram o seu tempo a cozer mas que se quebram com apenas um salto de gato. Toiças de pedra lavrada. Cantos cunhados com pedras da terra. Paredes vermelhas do barro, como um bolo barrado. O mundo visto por um postigo. Um teto que é um telhado. Um telhado que deixa ver o céu. Um abrigo. Uma casa na paisagem.

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