No Convento da Nossa Senhora da Natividade em Tentúgal, fundado em 1565, pelas mãos das irmãs da Ordem Carmelita nasceu uma doçaria de excelência onde os ovos, o açúcar, a farinha e a amêndoa eram os ingredientes necessários para receitas de inspiração divina. Deste extenso e doce legado destacaram-se, desde cedo, os afamados pastéis. Estes, inicialmente, em forma de uma meia-lua e com um recheio enriquecido com amêndoa eram o mimo que as irmãs faziam em jeito de agradecimento a todos os que as visitavam ou beneficiavam o Convento.
Em meados do séc XIX, a ordem decretada por Joaquim António de Aguiar de extinção dos conventos e mosteiros deu a conhecer o formato “palito” que se celebrizou como “pastel de Tentúgal”. Na verdade, a perda do usufruto das rendas veio agravar a difícil situação económica do Convento obrigando as Irmãs Carmelitas de Tentúgal a vender na roda os deliciosos pastéis assegurando, assim, a sua sobrevivência. É dessa época o relato de António Nobre (1888-1890) que este autor mais tarde imortalizou no poema “Carta a Manuel” em que descreve a vinda a Tentúgal e a ida ao Convento para comprar um pastelinho:
Tentúgal toda a rir de cazas brancas!
A linda aldeia! Venho cá todos os mezes
E contrariado vou de todas essas vezes.
Venho ao convento vizitar a linda freira,
Nunca lhe fallo: talvez, hoje, a vez primeira...
Vou lá comprar um pastellinho, que eu bem sei
Que elle trará dentro um bilhete, isto sonhei:
Assim o pastellinho, ó ventura sonhada!
Tem de recheio o coração da minha amada.
Abro o enveloppe ideal. Vamos a ver... - Traz? - Não!
Regresso a Coimbra só com o meu coração.
António Nobre, in 'Só'
A morte da última freira, D. Maximina do Loreto, também última Prioresa ditou o encerramento definitivo do Convento que viu as suas portas serem encerradas em 1898.
Felizmente que o encerramento do Convento não significou a perda de uma das receitas onde o saber fazer adquire maior destaque e, assim, algumas das senhoras da vila procuraram conhecer o segredo da massa para que esta não se perdesse na voragem do tempo.
O “Afonso”, consciente da responsabilidade da preservação do legado doceiro carmelita, promove desde 1970 a tradição do Pastel de Tentúgal, uma arte em que a sua fundadora, Natália Cavaleiro, se iniciou aos 12 anos, em 1956 com uma das dedicadas senhoras que recebeu o segredo das mãos da D. Maria Maximina do Loreto. Foi, assim, numa das casas próximas do Convento que Natália Cavaleiro deu os primeiros passos para aprender a delicada arte de bem-fazer pastéis.
É na História, tão rica, da Vila de Tentúgal, que nasce a vontade de continuar, de fazer mais, para que a História seja mais que recordar, seja construir e criar, para que o Hoje seja a História de Amanhã.
Esta é também a nossa história, a história da nossa Família e a historia da nossa Casa, os nossos Fundadores foram os primeiros, mas jamais serão os últimos, a paixão pela excelência, o amor pela tradição e a criatividade sempre presente levaram a novas conquistas, a criações surpreendentes, e ao renascimento de doces e sabores há muito esquecidos, em perpétua reinvenção, a descoberta há muito iniciada é hoje continuada pelas novas gerações que seguindo a história, fazem História, uma história que nO'Afonso é sempre de descoberta.