Correio do Ribatejo

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Correio entre a Extremadura e o Ribatejo
O Correio nasceu do rescaldo de vários acontecimentos que determinaram as posições e atitudes defendidas pelo seu fundador e director João António Arruda.

a experiência vivida com o jornal O Santareno, entre 12 de Janeiro e 28 de Setembro de 1889, ainda que precoce e de curta duração serviu como balão de ensaio para as páginas impressas do Correio. O jovem tipógrafo, admirador das ideias republicanas defendidas quer pelo pai quer pelo tio, cedo desejou escrever. Escrever seria a sua arma. Mas para escrever era preciso ler e a imprensa especialmente a de índole republicana estava mais perto da classe operária esclarecida onde João Arruda “bebeu” muito do seu ideário.

O ano de 1889 terminou agitado prevendo o Ultimatum Inglês de 11 de Janeiro de 1890. Desde a Conferência de Berlim (1884-5) que as grandes potências europeias da época pretendiam retalhar a presença portuguesa em África. A “cínica Inglaterra” no dizer de Guerra Junqueiro não demorou a impor a sua vontade ao seu velho aliado. Segundo Antero de Quental, estava instaurado o “momento de humilhação e ansiedade” vivido de forma intensa e emocionada por todos aqueles que acreditavam no total descrédito da monarquia e que abraçavam a república como a salvação. As dezenas de manifestações anti-britânicas, o boicote aos produtos ingleses, a subscrição nacional para comprar navios de guerra, como o cruzador Adamastor, a prosa dura e impiedosa de intelectuais que marcaram uma geração como Antero de Quental, Eça de Queirós e Oliveira Martins chegavam à pequena cidade de Santarém. As notícias publicadas em diversos jornais ridicularizavam o rei D. Carlos ao limite do impensável ou levavam à demissão do governo progressista em favor de um governo regenerador e provavelmente impressionavam o jovem Arruda.

A “vingança” que Fialho de Almeida tanto clamava despertou em Santarém. Um grupo de duzentos e seis moradores da rua Direita organizou-se para que a sua rua se passasse a chamar Serpa Pinto protestando “contra a afronta porque acaba de passar Portugal no conflito com a nação inglesa”[1]. Num acesso de entusiasmo, o vereador José Henriques propôs que Capelo e Ivens substituíssem o nome da rua de S. Nicolau. Santarém, tal como outras localidades, pretendia homenagear os pioneiros das expedições na África Portuguesa. Estes novos “heróis” representavam o patriotismo e ser patriota significava repudiar os ingleses que pretendiam usurpar as Terras do Mapa Cor-de-Rosa. A mudança do nome das ruas concretizou-se no dia 2 de Fevereiro e foi vivida intensamente com música, saudações, foguetes, iluminações “e um deslumbrante cortejo dando vivas a Serpa Pinto, à nação Portuguesa e abaixo à nação inglesa, tudo correspondido pelo muito povo que o acompanhava.”[2].

Outro momento determinante para a queda da monarquia foi a revolta republicana de 31 de Janeiro desencadeada no Porto. Sabendo que João Arruda era incapaz de apenas olhar os acontecimentos sem também os viver e considerando que o Correio foi fundado cerca de dois meses depois, pode dizer-se que o jornal foi uma consequência da agitação política e social vivida em Portugal. Sabendo que João Arruda era um jovem na casa dos vinte anos quando fundou cada um dos seus jornais, sabendo que era um republicano convicto, sabendo que a sua pena era mordaz e pouco atreita à censura, sabendo que era um homem da beira-rio, um ribeirense habituado à liberdade que as águas do rio proporcionam, esperava-se um jornal de luta portador de uma forte mensagem. O jornal nasceu num período de agitação, avizinhando o fim de um regime. Este tinha uma causa a defender, divulgar Santarém, a Estremadura sem esquecer a extrema com Leiria, o que aos olhos de hoje seria um pequeno sacrilégio.

Durante os quarenta e três anos que João Arruda dirigiu o Correio nunca ignorou as causas em que acreditava vivendo activamente acontecimentos como o Regicídio, o 5 de Outubro de 1910, a Primeira República, a Grande Guerra, a Revolta de Santarém de 1919, o Golpe Militar de 28 de Maio.

A chegada de Salazar ao poder tentou silenciar todas as vozes livres que até aí sobressaíram. Os anos trinta são difíceis quer pela repressão, quer pela censura, quer pelo medo. A pena de João Arruda afastou-se lentamente da política activa ainda que lhe seja difícil imaginar e escrever sobre um mundo justo quando o olha como profundamente injusto. O velho jornalista dissertava sobre as férias dos escalabitanos na Nazaré, a Feira da Piedade, as suas viagens a Viana e à Galiza. Nas entrelinhas recordava os velhos republicanos que tanto admirava como António José de Almeida e José Relvas, sem esquecer os aniversários do 31 de Janeiro e o lema “república e regionalismo”. Os discursos de Salazar, em 1932, apenas ocupam dois parágrafos da primeira página do jornal.

Quando João Arruda faleceu em 1934, o seu filho Virgílio passou a gerir o jornal em sociedade com a sua mãe Custódia Júlia Cravador. Viviam-se tempos difíceis num período entre duas guerras. O conflito em Espanha levou o jornal a defender as forças nacionalistas. Virgílio Arruda tornou-se defensor da União Nacional e da Legião Portuguesa. O jornal aproximava-se do lema “Deus, Pátria e Família” ainda que nunca fosse órgão oficial do Estado Novo. Na década de 40 e após a vitória dos aliados na II Guerra Mundial, o jornal aproximou-se da temática regional tornando-se uma bandeira na defesa da província do Ribatejo. O Correio da Extremadura passou a chamar-se Correio do Ribatejo a 13 de Janeiro de 1945. A partir da década de 50 e especialmente da década seguinte, a linha editorial defendida por Virgílio Arruda adoptou um tom moderado de forma a permitir a sobrevivência do jornal perante a censura e a ditadura. Joaquim Veríssimo Serrão tornou-se o director do Correio sempre que Arruda se deslocava de férias. Nas páginas do jornal os interesses da região, a história, a literatura e o património local predominavam.

Com a chegada da “Primavera Marcelista” o Correio empenhou-se na defesa de Marcello Caetano, amigo e colega de curso de Virgílio Arruda. O 25 de Abril trouxe os sobressaltos próprios da revolução e especialmente do “Verão Quente” de 1975, aos quais o velho jornal sobre sobreviver e adaptar-se. Com o falecimento do casal Arruda (Virgílio e Gertrudes Lino Netto) o jornal passou para as mãos de três dos seus colaboradores: Mário da Conceição Lopes, Manuel Oliveira Canelas e Luís Pires Marques.

Hoje, o Correio do Ribatejo, herdeiro de O Santareno e do Correio da Extremadura, continua vivo e de boa saúde nas bancas às sextas-feiras e na internet a qualquer momento de um clique. Teresa Lopes Moreira

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