Correio dos Açores

Rua Dr. João Francisco de Sousa, nº 14, Ponta Delgada, 9500-187
Correio dos Açores Correio dos Açores is one of the popular Media/News/Publishing located in Rua Dr. João Francisco de Sousa, nº 14 ,Ponta Delgada listed under Media/news/publishing in Ponta Delgada , Newspaper in Ponta Delgada ,

Contact Details & Working Hours

More about Correio dos Açores

O jornal Correio dos Açores foi fundado numa conjuntura de crise económica e social que caracterizou o imediato pós-l Guerra Mundial e no contexto do confronto ideológico e político que marcou toda a vida da I República portuguesa.
Foi, com efeito, a1 de Maio de 1920 que os drs. José Bruno Carreiro e Francisco Luís Tavares lançaram a público, como seus directores, o primeiro número do quotidiano Correio dos Açores. O editorial do seu número inaugural destaca essa espécie de angústia que "as incertezas e dúvidas" do pós-guerra motivavam: "É uma luz que está em marcha? Ou está-se a preparar inconscientemente o colapso geral da civilização com o regresso a um estado semi-bárbaro [...]? Caminha-se para um mundo melhor - ou está-se a cavar a ruína completa e a abrir a sepultura eterna de uma organização social que, se não era perfeita, dava ao menos aos homens uma ilusão de felicidade e, por vezes, uma ilusão de ideal realizado?".
Tratava-se, portanto, de uma conjuntura que exigia o aprofundamento do debate e da reflexão sobre as novas realidades políticas, económicas e sociais que atravessam todo o mundo e a que, consequentemente, os Açores não ficariam imunes. A própria situação nacional aconselhava o empenhamento no estudo e busca de soluções para a crise político-institucional, económico-financeira, social e mesmo cultural que assolava o quotidiano dos portugueses.
Ora, é precisamente na sequência destas preocupações, na objectivação deste "programa", que o Correio dos Açores, através de um dos seus mais ilustres colaboradores, o terceirense dr. Luís da Silva Ribeiro, irá relançar a antiga ideia de reunião de um congresso açoriano, na senda, aliás, do movimento regionalista que recrudescia em Portugal. Tratava-se de um projecto ambicioso que almejava a construção da unidade açoriana - mas não da unicidade - a partir da qual a cooperação açoriana substituiria as ocas rivalidades inter-insulares, sem prejuízo do respeito devido aos interesses específicos de cada ilha. Simultaneamente seriam criadas as condições para o exercício do que talvez se possa designar como uma verdadeira introspecção açoriana: "é estudar as nossas condições de vida, discutir e formular alvitres, ver à luz clara da razão, com sinceridade, sem desconfianças quiméricas, sem veleidades de predomínio, sem pruridos de superioridade, sem preconceitos ou fantásticas rivalidades, fraternalmente, desapaixonadamente, o que a todos convém [...]”.
Construção da unidade, exercício de introspecção, mas também busca da identidade. E, não há dúvida que, nos anos 20, o Correio dos Açores assumiu, a liderança, ou melhor, constituiu o fórum privilegiado do estudo e debate sobre a identidade açoriana nas suas diversas vertentes, com destaque especial para a cultural, pela qualidade dos contributos da maioria dos principais representantes da intelectualidade açoriana e mesmo de alguns continentais. Evidentemente que esta colaboração de qualidade só foi possível em virtude da envergadura intelectual e da invejável rede de contactos de José Bruno Carreiro, já que Francisco Luís Tavares só durante pouco tempo co-dirigiu o jornal. E um dos aspectos fundamentais do contributo do Correio dos Açores para a formação da consciência açoriana, assente no conhecimento mútuo entre os ilhéus e no desenvolvimento de fraternidade açoriana, radica precisamente nesta irrequietude intelectual que a busca da identidade cultural exigia. E, nesses longínquos anos 20 do século XX, iremos surpreender-nos, certamente, com a actualidade de determinados temas que preocuparam as elites de então. Lembre-se, porém, que o projecto do congresso açoriano só foi concretizado, em Lisboa, em 1938.
Outro momento de relevante significado para a sociedade açoriana da época, protagonizado pelo Correio dos Açores, foi o que ficou conhecido como a visita dos intelectuais, em 1924. Pretendia-se, com a vinda desse conjunto de personalidades com importante intervenção nos círculos políticos, culturais e jornalísticos nacionais, contribuir para a formação de uma opinião pública nacional melhor informada acerca das realidades açorianas, nas suas potencialidades, mas também nas suas limitações.
O Correio dos Açores constitui referência de vulto para a compreensão do processo histórico que conduziu à conquista da autonomia político-administrativa, legitimada pela actual Constituição portuguesa. Com efeito, se esta fase da autonomia democrática recuperou algumas das aspirações históricas açorianas (a unidade e solidariedade inter-insular, o reconhecimento constitucional da identidade...), o cedo é que ultrapassou de longe quaisquer das propostas institucionalmente credíveis, formuladas nas outras fases do processo reivindicativo autonomista.

Fonte: “Na Senda da Identidade Açoriana”

Map of Correio dos Açores