Museu Temporário de Memórias

Este é um espaço em (in)constante espera: procura, liga e transforma. Indisciplina o pensamento sobre o museu, as convenções museológicas e o processo de constituição de uma colecção ou criação de uma exposição. Este museu guarda o mais imprevisível: as experiências pessoais enquanto participação inventiva e possibilidade estética, o longo espaço-tempo do processo de conhecimento dos comerciantes, habitantes e artistas da Baixa (e da Cidade). Os objetos e as suas estórias enquanto pontos de encontro e diálogo entre a Cidade (a Baixa) e o Mundo, em apaixonada partilha de sentidos comuns.

Trata-se de um movimento de est –ética: abrimos uma brecha na definição institucional de MUSEU do ICOM, criamos espólio para que o museu exista, encenamos e programamos porque desejamos substituir a passividade existencial pela construção dos momentos da Vida. Praticamos a ruptura com o que acorrenta à resignação, interessa-nos a participação plena e autónoma, a expressão artística como processo de criação livre de memórias. Experimentamos mais do que definimos: não exploramos o desejo do passado mas antes a capacidade criativa e a exigência de independência e coerência nas nossas realizações presentes como produtoras daquilo que queremos que venha a ser o nosso passado, uma memória -em–ação. Convidamos lojistas para participarem neste prazer lúdico de organizar o trabalho como arte de viver, para se deixarem levar pela solicitação de uma mudança rápida de ambiências sem no entanto afrontar os princípios básicos dos dispositivos de criação de sentidos diários e memórias futuras. As interconexões inusitadas que surgem desta vivência não convencional do espaço urbano designado como Baixa de Coimbra é um Museu ambivalente. Temporário na sua circunspecta materialização, mas criador de passados que desejamos se perpetuem nas histórias de vida de todos aqueles que nele participam.

Catarina Pires e Ricardo Kalash
Coimbra, 25 de Junho de 2016