Olaria Fernandes

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Uma arte em vias de extinção

Apesar das dificuldades cada vez maiores, Faustino Fernandes promete continuar a vingar a profissão que o viu crescer.

Era uma aldeia de oleiros. Famílias inteiras que viviam do barro. Naquela nasceram seis irmãos. Dois aprenderam. Veio o Ultramar e o filho mais velho foi combater pela pátria. O mais novo, naquela altura com dez anos, saiu da escola à pressa para substituir o irmão. E desde então se passaram 45 anos de profissão.
Liga-se a roda e ouvem-se os rolamentos a chiar. Coloca-se o avental, passam-se as mãos por água. O barro rapidamente ganha forma, com a desenvoltura de quem já sabe trabalhar quase de olhos fechados. Surge a primeira peça, um pote e, com ele, as primeiras recordações: “Aos treze anos já sabia fazer cântaros, vasos, bilhas para a água, potes para o azeite, asados, caçoilas para a chanfana e alguidares”, conta.
As mãos lançam-se novamente ao barro, desta vez para fazer uma moringa em miniatura. “As futricas eram peças que os oleiros faziam para as feiras de ano e romarias. Por dia, eram feitas cem e cada uma custava dez escudos. Como ninguém as gostava de fazer, eu ia às outras olarias fazê-las. Foi assim que ganhei dinheiro para a minha primeira motorizada, uma “Casal K”. E assim comecei a ir aos bailaricos no concelho”, recorda em tom de brincadeira.
No entanto, os modelos que se fabricavam outrora estão ultrapassados. Actualmente, Faustino Fernandes fabrica modelos de duas linhas, uma composta por modelos de jardim e outra de peças utilitárias e decorativas. As peças utilitárias são as que têm mais saída. As caçoilas em barro vermelho e preto, assadeiras para ir ao forno, jarros, pratos, taças e assadores de chouriço são os artigos mais vendidos.
Metódicas, as suas mãos não param. “Fazer peças em barro não é tão fácil e rápido quanto se imagina”, adverte Faustino. Primeiro o barro tem de ser extraído dos barreiros. Depois de transportado para a olaria, vai ser remolhado e mais tarde picado para seguir para a máquina de passar o barro. O próximo passo é empelar o barro para seguir para a roda e ganhar forma. Depois de feita, a louça vai esponjada e vai secar por uns dias. “No inverno, a fase de secagem pode durar até duas semanas. E no caso das peças utilitárias, são pintadas e vidradas antes da fase final, o forno”, acrescenta.
Com o advento da indústria, a profissão foi perdendo para as grandes superfícies e está em risco de desaparecer. “Quando comecei existiam no lugar cerca de 32 olarias no activo. Hoje, existem apenas três”, conta. O oleiro explica que com a crise que se abateu sobre o país, as vendas no artesanato foram bastante afectadas. A par disso, os custos com a matéria-prima, o barro, e com o vidro, a electricidade e o gás industrial são cada vez mais insuportáveis.
Com a agilidade de sempre, Faustino Fernandes vai continuar a erguer peças em barro até ao dia em que não possa mais. Foi assim com o pai, Benjamim Antunes. E foi assim com as 32 olarias que a aldeia do Carapinhal já acolheu.


Texto: Daniela Fernandes

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