Rua Direita, esta rua não acaba aqui é uma das acções no âmbito dos JARDINS EFÉMEROS 2013, com a curadoria de Joana Astolfi, e com 20 alunos da Faculdade de Arquitectura da Universidade Católica de Viseu.
+INFO:
https://www.facebook.com/jardinsefemeros?fref=ts
Editorial JE 2013
VIVER E PENSAR A CIDADE:
UM LUGAR COM GENTE DENTRO
Assim se insiste mais uma vez na edição, a terceira, dos Jardins Efémeros. E “insistência” é, talvez, palavra desajustada para um acontecimento que, não impondo ou limitando gostos, géneros, correntes e modas, procura pôr em prática um programa de fruição artística e sociabilitária que coloca a “cidade” no sítio que histórica, social e politicamente é o seu ― lugar de vida comunitária e liberdade. De facto, não se insiste; faz-se…
É que a sua realização não resulta só do trabalho de dezenas de programadores, criadores e artistas de palco, mesa, rua, papel, tela e cor com nome no cardápio, mas do prazer de milhares de gente que nele participa: naturais, residentes, viajantes da cidade. Todos autores da vida dos jardins.
Com maior duração ― sete dias e sete noites ― e mais espaço ― alargado às ruas Direita, Formosa e do Comércio, ao Mercado 2 de Maio e ao Adro da Sé ― os Jardins deste ano mantêm, em cenário verde e florido, as múltiplas manifestações e práticas culturais de edições anteriores: do teatro à pintura, da dança a instalações multimédia, da música à gastronomia, do cinema às conferências, da literatura à fotografia. E mantêm, com igual força, o objectivo e rumo das edições anteriores ― habitar a urbe, debater a polis, okupar a cidade.
A cidade, sempre a cidade…
Não a ruralidade, canónica, observante e cusca, onde toda a gente sabe ― inquisitorial e não criticamente ― tudo sobre o outro e os seus “desvios”; nem a suburbanidade, não-lugar de indiferença, onde o outro é apenas átomo fragmentado, que partilha gostos e gestos massificados. Está a falar-se, claro, da atitude mental e não geográfica. É que há também muita urbanidade no campo, muita ruralidade na avenida, muito de tudo no subúrbio.
Aqui, “cidade” é lugar de afectos pátrios, mas de universalidade; de particularidades, mas cosmopolitas. Lugar de identidades plurais e mestiças; de práticas solidariamente críticas e cidadãs. Lugar de vida e partilha de sentido com o outro.
Enfim, espaço de liberdade e opções; de multitudes, não de multidões.
É, aliás, sem ironia, mas talvez com breve sorriso, que se usam lugares de confronto, guerra e impostos consensos para manifestações de encontro, arte e livre opinião; como a antiga muralha, junto à Porta do Soar, e o Distrito de Recrutamento Militar das velhas inspecções para a tropa, na Rua Direita.
Porque o que se quer mesmo ― no rasto velho do sempre descoberto e novo poeta, andarilho e cantor ― é uma cidade sem muros nem ameias.
João Luís Oliva