Sargaceiros da Casa do Povo de Apúlia

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Ligado ao mar e ao sargaço, o folclore, em Apúlia, assume características muito específicas e únicas no litoral português.

Aqui, o agricultor-sargaceiro, sempre que o movimento das marés prenuncia a aproximação de uma boa "mareada", larga toda a sua atividade nos campos e vai para a praia. Mas, por vezes, a espera pelo "assejo" - o momento exato em que o mar arroja a terra as primeiras algas dando lugar, então, ao início da "mareada" - pode ser longa, e há que preencher esses tempos mortos.

A expectativa de mais um dia grande e enriquecedor, torna as pessoas alegres e folgazãs, e todos dão largas à ansiedade que os possui. Logo aparece alguém a tocar concertina, outros cavaquinho, viola, ferrinhos, bombo, reque-reque, e a festa acontece. Homens e mulheres, principalmente os mais novos, juntando-se aos pares, ou em roda, cantam e dançam com a alegria bem característica das gentes da beira-mar. Decorrido algum tempo é necessário prestar atenção ao mar, não vá o lençol de sargaço ter-se já aproximado de terra, e o "assejo" estar iminente. Pára a dança. As mulheres sentam-se, languidamente, na areia da praia; os homens, de pé, observam atentamente o comportamento do mar. Se o lençol de sargaço que se vai formando ao longe ainda demora a aproximar-se da costa, a dança recomeça com a mesma alegria e vigor. Até que, a determinado momento, alguém grita a plenos pulmões "Argaço" - e a festa acaba ali para dar lugar à "mareada" - quatro horas de labuta constante, no afã de ser arrecadado todo o sargaço possível.

Cada homem, munido do "galhapão" ou da "graveta" corre para o mar, enfrenta as vagas, até onde lhe for possível, sem colocar em risco a sua segurança, e vai arrecadando as algas nelas envoltas. A mulher retira o xaile e o chapéu, coloca-os em lugar resguardado, sobre a areia, e aguarda na borda do mar o momento de ajudar o sargaceiro que vem a terra com cada carga de sargaço.

A apanha do sargaço que, como se diz antes, assume em Apúlia características únicas, fez com que o sargaceiro fosse considerado, há longos anos, o ex-líbris do concelho de Esposende.

Em Agosto de 1934 realizava-se no Palácio de Cristal, no Porto, a “Grande Exposição do Mundo Português”, onde deveriam fazer-se representar as províncias ultramarinas portuguesas e todos os concelhos do País. O concelho de Esposende enviou uma delegação composta por sessenta sargaceiros - trinta homens e trinta mulheres - por considerar a originalidade e autenticidade do traje que, tudo o indica, parece remontar ao período da ocupação da Península pelos romanos, e ainda pela atividade agro-marítima que representava: a apanha do sargaço.

E a delegação do concelho de Esposende a todos surpreendeu e encantou, pelo garbo dos homens e pela beleza das mulheres.

António Torres, responsável por aquela delegação, decidiu, então, dar-lhe continuidade. E assim foi fundado o "Grupo dos Sargaceiros de Apúlia".

António Torres, à época Presidente da Junta de Freguesia, era um homem dotado para as letras e para a música e, por isso, amante e cioso da cultura tradicional da sua terra, lançou-se com entusiasmo na pesquisa e recolha das danças e cantares ligados a Apúlia e à apanha do sargaço, organizando, assim, o repertório do Grupo Folclórico, e que se mantém até aos dias de hoje, sem alterações nem plágios. Contou, para tal, com a ajuda do Conde de Villas Boas, então comandante do porto de Leixões, e do escritor e etnógrafo esposendense Manuel de Boaventura, dois grandes admiradores de Apúlia e dos Sargaceiros.

Em 1940 é também fundada por aquele apuliense a Casa do Povo local, onde o Grupo Folclórico é integrado e passa a designar-se, até aos dias de hoje, "Grupo dos Sargaceiros da Casa do Povo de Apúlia".

É Membro Efectivo da Federação do Folclore Português, e Centro Cultural e Desportivo do Inatel (CCD), inscrito sob o N.° 3331.

Para assegurar, na população jovem, o gosto e orgulho por esta cultura própria, existe há vinte anos o Grupo Infantil, com cerca de sessenta crianças, de idades compreendidas entre quatro e doze anos, e que, em sessões semanais, vão aprendendo, a brincar, os usos e costumes tradicionais ligados à faina do sargaco, as danças e os cantares dos sargaceiros.

AS DANÇAS E OS CANTARES
Povoação localizada mais a sul da província do Minho e limite desta com o Douro Litoral, as danças detêm características de transição e revelam afinidades com as terras maiatas.

Adotam, aqui, os nomes tradicionais Malhão, Chula, Cana-Verde, Vira, Vareira, Regadinho, etc. Mas nenhuma destas danças se identifica com outras de igual nome dançadas no Minho, no Douro ou nas Beiras.

Aqui, os passos de dança dos sargaceiros assemelham-se aos movimentos das ondas do mar, ora rápidas e alterosas, ora calmas e deslizando suavemente.

Assim, todas têm dois momentos: enquanto o cantador faz ouvir a sua voz, os dançadores movem-se devagar, em passos suaves, braços ao longo do corpo; quando o cantador se cala, para dar lugar ao coro, ou à música mais intensa, logo os braços se levantam e todos imprimem, então, à dança, celeridade e vigor, tal como o vai-vém das ondas do mar em maré viva.

O mar e o sargaço, o amor e a saudade, são uma constante nos cantares dos sargaceiros.

Na execução musical predomina o som da concertina, acompanhada dos cavaquinhos, viola braguesa e viola-baixo, ferrinhos, reque-reque e bombo.

Por todo o Portugal Continental, Açores e Madeira, e pelo estrangeiro (Brasil, Bélgica, Espanha, França, Luxemburgo e Suíça), a sua atividade tem sido constante, quer em festivais, quer em representações etnográficas.

É, reconhecidamente, um representante ímpar do folclore do litoral da Região do Baixo-Minho, quer pelas suas danças, quer pelo traje característico. É considerado, quer pelos etnógrafos, quer pela Federação do Folclore Português, um dos Grupos de maior autenticidade, pelo que a sua presença se torna requisitada nos maiores festivais de folclore do País.

Pedro Homem de Mello escreveu: "Em Apúlia tudo é verdadeiro... até o traje".

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