Os rabelos, os bois e o Homem
Ainda antes do Séc. VXII quando o Vinho do Porto começou a expandir a sua comercialização, sobretudo para Inglaterra, o principal meio de transporte dos barris eram os carros de bois e os barcos rabelos para os fazerem chegar desde o Alto Douro até ao Porto. Das adegas saíam valentes parelhas. «(…) Os cascos eram transportados pelas empinadas veredas e calçadas alto-durienses em carros de bois, especialmente concebidos para essa função: o cabeçado era ligeiramente encurvado para cima para não estrangular os animais nas descidas; o chedeiro não tinha soalho, ficando com as travessas à vista para ser mais leve; as chedas, levemente encurvadas para dentro, prologavam-se para além da última travessa do leito, para que nelas pudesse assentar-se, atravessado, um pipo de vinho, o penso dos bois ou o que fosse preciso para a viagem; as rodas, embora de madeira, tinham amplos espaços vazios e reforços de grandes pranchetas de ferro (meias-luas ou seitoiras), para se tornarem leves e resistentes; as molhelhas, feitas de couro e forradas a pano vermelho protegiam a cabeça do animal: o chiadoiro do eixo nas treitoiras insensibilizava o animal que puxava para outros barulhos e, segundo a voz do povo, afastava os lobos e os espíritos maus; ao pé do tesão, havia um espaço vazio, formando uma caixa (tabuleiro) para o boieiro guardar a comida.» in: ALTO DOURO TERRA DE VINHO E DE GENTE - A.L.Pinto da Costa - 1997
Já nas margens do rio e de encontro com o barco puxado à sirga, o rabelo conquista as águas turbulentas metro a metro. Homens da companha galgam as fragas marginais. São eles e o barco um só para vencer.
«Se a tripulação tivesse sorte, teria um caminho de reboque. O rabelo soaria a buzina para chamar os agricultores locais. Um grito de "Eh! Boieiro " ecoaria em todo o vale, e com três pares de bois atrelados tentaria rebocar o barco.» in: http://www.taylor.pt/pt/noticias/historia-barco-rabelo/
Muitas das vezes cansados da descida, os agricultores davam do próprio vinho aos animais para ganharem energias e assim puxarem os barcos para trocarem os barris.
Já no regresso aos entrepostos em Gaia, tripulações valentes de remos em riste desafiam os rápidos do Douro com precisão e mestria.
Mas nem tudo era fácil.
«Apesar da incrível habilidade das tripulações, muitas vidas foram perdidas no Douro, incluindo o Barão de Forrester, que pereceu no infame Cachão da Valeira em 1861, juntamente com o seu lendário cinto de dinheiro cheio de ouro.» in: http://www.taylor.pt/pt/noticias/historia-barco-rabelo/
« Já aí, o mestre no quadrante libertava a direção do remo, tirava o seu boné e, em seguida, cruzava os braços exclamando: "Agora vai com Deus”.»
Foi uma época de Heróis onde a história foi escrita com força e suor. Homens unidos de tradições próprias e costumes distintos talhavam paisagens daquilo que hoje é o Alto Douro Vinhateiro - Património da Humanidade.
O Trail dos Bois é uma homenagem à memória desta gente.